O uso de psicodélicos no tratamento de dores crônicas é pouco estudado, mas cheio de potencial.
Em 2018, o FDA atribuiu a psilocibina uma designação de terapia inovadora. Em resposta, o Centro Arthur C. Clarke de Imaginação Humana da UC San Diego organizou uma nova colaboração com grupos em todo o campus, incluindo o Centro de Fronteiras Humanas do Qualcomm Institute e os Departamentos de Anestesiologia e Psiquiatria, para lançar a Iniciativa de Pesquisa em Saúde e Psicodélicos (PHRI). Sua missão é estudar o potencial da psilocibina e outros compostos relacionados para promover a cura e ajudar a controlar a dor.
Embora grande parte das novas pesquisas sobre psicodélicos mostrem sua alta eficácia no tratamento de distúrbios psicológicos, poucas pesquisas foram feitas para demonstrar seus usos no tratamento de condições de dor crônica.
Em um artigo de maio de 2020 publicado na revista Regional Anesthesia and Pain Medicine, pesquisadores da Universidade da Califórnia em San Diego revisaram a literatura psicodélica e propuseram um mecanismo pelo qual os psicodélicos podem aliviar dores crônicas.
"As condições de dor neuropática, como a dor nos membros fantasmas, costumam ser difíceis de tratar", diz Furnish, membro do grupo de pesquisa. "A possibilidade de os psicodélicos poderem reorganizar as vias de dor no cérebro mantém a promessa de um tratamento muito mais duradouro do que os medicamentos atuais podem oferecer". A revisão da literatura discute estudos usando psicodélicos para tratar condições como cefaleia em salvas, enxaquecas, dores do câncer e dor em membros fantasmas. Os compostos envolvidos nos estudos foram a psilocibina, LSD e o 2-Bromo-LSD que é um análogo do LSD (BOL-148). Os autores abordam a história dos psicodélicos, estudos sobre sua eficácia, tolerabilidade, segurança e as classes químicas. Ao propor a hipótese de como os psicodélicos agem como analgésicos, os autores revisaram três conceitos: 1) O mecanismo de ação dos psicodélicos nos receptores de serotonina (principalmente 5-HT2A). 2) Os efeitos dos psicodélicos no corpo, levando à modulação da expressão e inflamação dos genes. 3) Alterações na conectividade funcional do cérebro (CF) provocadas pelos psicodélicos.
Psicodélicos para Dor Crônica - Argumentando
Segundo os autores, vários mecanismos podem contribuir para os efeitos antinociceptivos (detecção de dor) dos psicodélicos. Com base na literatura, eles observaram que a ativação do receptor 5-HT2A (como fazem os psicodélicos clássicos) causa regulação positiva (tornando-se mais ativa) dos genes associados à neuroplasticidade. Os genes que suprimem a inflamação através do fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) também sofrem regulação positiva quando o receptor é ativado. Portanto, a ativação do receptor 5-HT2A pelos psicodélicos pode levar à religação no cérebro + inflamação reduzida = nocicepção reduzida. Os autores explicam que os estudos demonstraram que, com o tempo, a dor aguda se transforma em dor crônica por neuroplasticidade. Além disso, outras alterações na estrutura e função do sistema nervoso em áreas como a medula espinhal e o córtex do cérebro estão envolvidas. É nessa evidência que eles encontram o principal fator de sua hipótese:
Dada a evidência acumulada de conectividade funcional alterada do cérebro em estados de dor crônica, a capacidade dos psicodélicos de interromper os padrões estabelecidos de conexão cerebral é talvez o mecanismo analgésico potencial mais intrigante para os psicodélicos.
Com base nas evidências científicas em geral, os pesquisadores fizeram a seguinte recomendação:
Dado o estado atual da epidemia de opioides e a eficácia limitada de analgésicos não opioides, é hora de considerar novas pesquisas sobre psicodélicos como analgésicos, a fim de melhorar a vida de pacientes com condições de dor crônica.
O que vem a seguir para os psicodélicos no tratamento da dor crônica?
Os autores observam que dos mais de 200 estudos clínicos que examinam os efeitos dos psicodélicos nas condições de saúde, nenhum deles estuda a ligação dessas substâncias com a dor crônica. Para preencher essa lacuna, eles propõem duas áreas principais para uma investigação mais aprofundada: 1) identificar os mecanismos que apoiam a analgesia induzida por psicodélicos e 2) estudos controlados por placebo para quantificar as doses efetivas de psicodélicos que proporcionam alívio previsível e confiávem da dor.
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